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sábado, 8 de agosto de 2015

- 10 minutos - Parte 1

uma palavra dita para saciar uma outra silenciosa. Um tempo fino e macio, que se transformara em um peso cruel e torturador. Distanciando uma alma, que, ele, quisera perto...




O vento corre junto à sombra sinistra que sola o corredor do hospital. Há pessoas lá. Anunciando a revolta atirada de um homem doente deitado à cama de um leito que diz que não querer morrer, mas é inevitável. O contrato expirou, sendo assim, a busca por outra alma pobre que queira ganhar tudo na vida com o único preço a pagar - a vida - é iniciada novamente.
Os olhos vermelhos adoentados observam os lençóis dançarem diante do vento emitido pela brisa tranquila da janela, há alguém o observando e sorrindo com impureza em sua boca e em seu rosto velho, que diz "- chegou a hora meu amigo, quando o relógio soar o ar da meia noite você já estará no verdadeiro mundo". Os fios de sua cabeça branca começam a se desvanecer como areia atirada no vento, seu rosto enrugado começara a perder as formas naturais humanas. Ao meio do silêncio uma luz surge ao fundo de seu quarto;a única linha de memória agora começara a passar como um mistério, absolvido pelo seu coração badalando devagar e os glóbulos oculares revirando-se lentamente. O filme macabro de sua inútil vida passara pelos seus olhos. Ele se questiona com indagação com lembranças estranhas de tempos estranhos, "valeu a pena?", a única resposta é o fatal e esmagador silêncio... apenas o silêncio. O relógio da cabeceira de sua cama mostra onze e cinquenta. Seus ossos contorcem-se e dobram-se até alguns estalos começarem a ressoar no frio.
Os fios de memórias vão e vem em paradas de segundos. Segundos frios e não-aconchegantes. Memórias, que, entre as paradas dos segundos assombrados, eram a única que coisa que ainda lhe restara... A única coisa que ainda que fosse ruim, o manteria vivo como um ser humano.


- O relógio tiquetaqueia devagar, parece um martelo acertando um prego, quando o cenário vai se abrindo... revela alguém com uma câmera e alguém posando para as fotos. Não era um martelo, era o som da máquina fotográfica, o dedo deslizando para o botão e fazendo vários tiques e taques...




10 minutos -


- Danny, meu amor olha para a câmera aqui. Isso, vou registrar cada momento - diz o senhor Walter.
- Ah não... depois vai ficar enchendo o saco mostrando essas fotos - em um tom que mostrara que não queria, mas que na verdade, amara aquilo tudo e fingia não gostar. Mas Walter sabia bem... sim ele sabia.
- Ah eu a perturbo? - soltando a câmera e indo em direção a ela, como um arco pronto a disparar; ele segura por sua cintura e a levanta para si;suas pernas encaixam-se em sua cintura jovem. Seu peso de cinquenta quilos modelado em um vestido branco que parecia prata, para ele, eram apenas "alguns".
- Que tal me dizer agora bem pertinho do meu rosto que eu a perturbo, que tal? - Seus rostos se tocam, e ele sequencia alguns beijos diretos em seu pescoço. O cabelo ruivo cai por cima do ombro direito, ela apenas meneia a cabeça para afirmar falsamente de uma forma amorosa. Os dois caem no chão. Ela em cima navegando o barco. Ele embaixo, fazendo, bem, o que lhe era propício àquele momento.

A noite cai como uma flecha que fora disparada do arco e voltara para o chão. Os olhos verdes cintilam como um vaga-lume, como um bem grande. Senhor Walter está à observar-la, seu olhos se juntando com o céu e formando uma nova estrela, uma esverdeada, como uma pedra de jade.
Como prometido, era apenas uma noite, ela seria a mais amável possível. O amor iria desvairar de seu corpo por falta de espaço, não haveria brigas ou confusões. Apenas - amor???, dá um pouco de atenção para mim, estou aqui olhando esse céu, e você aqui comigo, retribui meus beijos? - uma voz doce e suave como a água se transformando em vinho...No final da noite seu corpo iria desalmar, estaria um vazio tão solitário que ele mesmo (talvez), iria terminar o serviço. Mas ele não fez. Apenas esperou com o braço enlaçado em seu pescoço, enquanto ela beijava seu pescoço em lábios gelados que ficavam a cada segundo um pouco mais, até parecer cubos de gelo tocando sua pele. Aos poucos ela foi parando e esgueirando-se para o lado, deslizando em suas costas parecendo uma massa gelatinosa.
Sua mente entona um ato trágico à cena, seus dedos cospem suor e suas pernas tremem.
"- O inevitável - ela se fora, mais uma vez"

Mais um fio de cabelo e uma ruga na testa. Seus pés agora raspam um no outro para conter o frio que chegara.




9 minutos -


Um tempo solitário sobrevoa a cidade. Senhor Walter era apenas um professor de Bridgeport. Seus dedos estavam rodopiando uma caneta, enquanto a sala recitava poemas de Shakespeare. Mensagens violadas dentro de cartas no canto de sua mesa diziam:

"Eu fiz isso porquê você me obrigou a fazer. Se estivesse presente quem sabe eu não fizesse."

Os desejos são evacuados atrás de grandes óculos. E mais uma mensagem é lida mentalmente de uma forma que sua mente gritava consigo mesmo.

"Não veja isso como um abandono... Veja como uma experiência de vida para progredir na vida... eu ainda o amo, mas precisamos desse tempo, eu preciso te esquecer um pouco e você deve me esquecer também, quem sabe não saberemos a falta que um faz ao o outro. Ou melhor. Quem sabe não encontramos alguém melhor enquanto estamos separados assim."

Seu peito ofega tão pesadamente que faz uma voz infantil perguntar o que ele não queria responder.
- Está tudo bem, professor? - Charlier, um garoto de doze anos que sentava na primeira cadeira da sexta-última fila ao lado da grande vidraça da sala. Usava cabelo à escovinha. Tinha um sinalzinho negroide na mão direita, e era loiro.
- Eu estou bem, é só... - ele se dá conta que está falando com uma criança e não um ombro amigo, literalmente. Eram boas pessoas mas não entenderiam de maneira alguma o que se passava, como ele pensou... - "eram apenas crianças" - uma dor de cabeça, filho. Isso. Uma fraca dor de cabeça que logo-logo irá passar! - o tom da sua voz se mostra fraco, mas independente...
A ponta de seu pé toca o chão para cada "Tic-Tac" do ponteiro do relógio, ansiando a partida. Desejando o toque final para terminar seu maltrato diário. Sua alma estava torturada por um velho amigo e sua namorada, meia noite e ele a viu, trocando beijos da forma que eles trocavam. Ou talvez, lastimavelmente talvez melhor. A solidão corroía seu estômago até o ar subir pelo tubo da garganta e colocar os alfaces,arroz, e claro, um toque de solidão para fora.
"Um almoço pobre para uma alma pobre"- era um pensamento dramático.

Alguém lhe toca o ombro -

Era Jason, 11 anos. Cabelos negros, pele negra, olhos azuis. Um garoto que no futuro se tornaria alguém de sucesso, era muito inteligente, muito mais do que qualquer outro da classe e das duas seguintes;se ele soubesse o que era "pular séries" naquele ano, certamente o faria. Seus finos dedos lhe passam uma suave folha branca, seu ouvido produz um zumbido histérico até as coisas ao seu redor se fecharem em silêncio. O garoto apontava e falava sobre o que havia desenhado, mas ele não escutara nada, era evidente. Jason era órfão de pai e mãe, criado pelos tios. Imaginava o professor Walter como seu pai, pois ele, lhe dava atenção... - rabiscado em algumas formas redondas e retangulares e etc... saindo em forma de balões de fala. um desenho de um adulto com gravata. Lhe dava amor - perdido em um recreio qualquer, o adulto de gravata lhe dá uma maçã que estava ocultada dentro da bolsa. Brincava com ele - na aula de português, comparando ele com o desenho da lousa, fazendo todos rirem, inclusive Jason.
Um abraço ratificante lhe é dado. Os passos correm para ir embora ao ouvir o som da buzina do transporte escolar. A solidão o toca novamente em baixas escalas até crescer aos poucos novamente. Provas e mais provas para corrigir na sala dos professores, mas era estranho, apenas ele estava lá. Ninguém para conversar sobre o dia ou lhe deixar desabafar um caminhão velho de areia densa que lhe ocorrera durante a semana anterior. Simplesmente ninguém.
Ele conseguia ver ainda a sombra feminina rodopiando com ele naquela sala, eles estavam em casa, e a memória lhe é farta: " - Sabe dançar tango? - Não, mas sei observar. - Não seja idiota Walter, dance comigo... lhe ensinarei cada passo que aprendi com minha mãe, é fácil... - Eu espero que seja sim..." ; Primeiramente alguns passos errados e pisões, mas ele vai se soltando e aprendendo como um bebê dando primeiros passos e depois começando a andar direito, e logo após, correndo como o vento. À sua esquerda, por entre a porta entreaberta, outro professor do turno da tarde com outros alunos já mais velhos dizendo,"a sociedade atual vive em constante imediatismo", sua cabeça gira um pouco retomando uma frase "não veja isso como um abandono... oh desculpa... veja isso como um rapaz deixado à deriva no polo ártico para morrer congelado". Sua cabeça entra em confusão mútua, seus pensamentos se embaralham. O seu lado culto de professor da melhor escola de Bridgeport vai embora em poucos segundos. Uma névoa paira sobre a sala. Havia literalmente um furacão ali pelo qual ele estava no olho, algo tão simples e tão complicado ao mesmo tempo para ele. As palavras "abandono" e "Dance comigo Walter" se misturam como uma vitamina no liquidificador se tornando uma frase mais esclarecedora para ele naquele momento, "Dance comigo Walter. Dance como meu marido, essa será nossa última música. Depois nós jamais nos vemos na vida, pelo menos não nessa... não nessa... não nessa... não nessa...", as palavras "não" e "nessa" ecoam e ecoam, até elas voltarem para ele como uma furacão fazendo uma curva e acertando uma casa de cheio. Suas provas rodopiavam junto ao vento no ar e na névoa fazendo-o ficar com a visão escura e mais escura cada vez que as palavras ficavam mais altas e assustadoras. Elas encontram o caminho de sua face, assim como um furacão faz uma curva e acerta uma casa em cheio, e sua cabeça começara a rodar de verdade, até sua visão ficar como um vazio, um vácuo, um escuro onde ninguém se atreveria acender a luz, e antes que seus olhos se fechassem completamente, ele se dá conta que de fato ele estará delirando e neste momento estava entrando em um desmaio, um desmaio tão fino e suave que ele mesmo só se deu conta quando viu que nenhuma parte do seu corpo respondia mais, e a visão fechada é claro...
Antes de apagar completamente ele sente uma voz sussurrando em seu ouvido,
"Você já está fazendo besteira novamente? Seu porquinho, deixa a mamãe cuidar disso para você..."


A lua agora passara por uma pequena temporada de nuvens negras que prejudicialmente tiraram a única luz que havia passado pela janela e entrara no quarto, e que agora, estava indo embora lentamente, assim como sua alma...




8 minutos -



Uma voz feminina e nada doce naquele momento, era falada espontaneamente de forma azeda que ficava ácida à cada palavra saída daquela boca com um sinal cabeludo, que parecia conversar com você também(parecia mesmo que tinha vida própria), se mexia para cima e para baixo de acordo com o enrugamento da boca. Senhor Walter não sabia se olhava para os olhos do rosto ou os olhos do sinal cabeludo(se é que aquilo no meio que emanava um pouco de pus era um olho), a situação se tornava pior quando ela suava, e o suor fazia uma camada que se parecia um bigode, mas ela não hesitara em limpar, apenas coçava friamente o sinal.
Sua boca pausara severamente em curto período de tempo para fazer um bico com os lábios e dizer apenas "Hum", "hum":
- Senhor Walter... Infelizmente você está com pedra nos rins. O resultado diz por si só que há cálculos renais bem grandes para serem dissolvidos apenas com medicamentos. Você precisará de uma ureteroscopia, e urgente - novamente torna a coçar o sinal - Deixe me ver... ... Também precisará de...  ... - diz Gertrudes passando as folhas para trás desinteressante em todos os parágrafos estampados nas folhas brancas, sua cabeça apenas meneia para cada folha passada adiante - Um exame de sangue novamente!
Era só o que ela tinha a dizer como das outras vezes que ele esteve lá(talvez ela estava guardando os frascos e colocando em potinhos para experimentos, pelos quais, ela provavelmente queria fazer com ele), "precisa de um exame de sangue para alimentar esse sinal com todo ele escorrendo por cima do meu bigode de suor; isso lhe traz ânsias de vômito? eu espero que sim, Senhor Walter..." era só o que ele conseguia pensar naquele momento. Provavelmente era apenas rotina, para saber se ele ainda estara "bem", definindo exatamente a palavra "bem" seria:
"se ele não estava mais acabado do que ele estava naquele momento".

Sala de coleta sanguínea -

Os corredores do hospital eram como corredores estreitos de um labirinto; a cada vez que você entrava por uma porta, era um velho cenário inteiramente igual ao anterior e isso dava a impressão de um hospital de terror de filmes dos anos 70, que quanto mais você corresse para fugir, mais preso você se encontrava. E nesse filme o vilão seria a "Abominável Gertrudes" - estrelando em um vestido verde de bolinhas cinzas e minúsculas um tanto pouco vulgar, apertada como um maço de notas em uma liga, era ela naquele jaleco branco que o botão estava a curtos passos de estourar. Suas pernas estavam cobertas por inúmeros fios brancos, que fazia delas cabeludas e velhas. Seu tamanco de madeira pintada com engraxate certamente, parecia eletrônico que a fazia se mover quase como um robô, na verdade, um pássaro dando rasantes pelo chão gelado daquele corredor, que ia ficando distante e mais distante até finalmente se perder de vista.
Um zumbido toma conta do corredor, tão alto e forte que fizeram Walter cair sentado tentando evadir o som perturbador com as palmas das mãos em ambos os ouvidos.
-"Senhores, dirijam-se à sala de coleta sanguínea...Walter nós ainda pegaremos você!"
Os alto falantes pararam de funcionar momentaneamente por um som de estática, deixando a voz no final com um som agudo lentamente transformando-se em grave até pifar.
- Senhor Walter, quer ajuda para se levantar? - dizia Gertrudes, esticando-lhe o braço.
- Si-m-, sim - gaguejando Walter responde.

Depois, já na sala de coleta, passara em sua cabeça como a velocidade de um relâmpago em um dia de chuva; se aquilo não houvesse acontecido daquela forma, é claro; eu poderia tê-la dito "nem seu eu de fato precisasse"

Ao seu lado, há um homem lendo uma revista sobre futebol, ele olha nos olhos de Walter. Ele sabia que de alguma forma, aquilo, aquele homem, não era quem estava no controle do próprio corpo. Era uma entidade obscura que perseguia Walter por anos, ele somente dizia:

- Ninguém foge de mim... Você teve o momento que queria ter sem ninguém o atrapalhar. Foi bom quanto durou, "bebezinho"? Agora você me deve sua vida, e isso está perto de acontecer... Eu estou mais perto do que imagina, eu,

sempre estive...









(Continua) -




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