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sábado, 8 de agosto de 2015

- 10 minutos - Parte 1

uma palavra dita para saciar uma outra silenciosa. Um tempo fino e macio, que se transformara em um peso cruel e torturador. Distanciando uma alma, que, ele, quisera perto...




O vento corre junto à sombra sinistra que sola o corredor do hospital. Há pessoas lá. Anunciando a revolta atirada de um homem doente deitado à cama de um leito que diz que não querer morrer, mas é inevitável. O contrato expirou, sendo assim, a busca por outra alma pobre que queira ganhar tudo na vida com o único preço a pagar - a vida - é iniciada novamente.
Os olhos vermelhos adoentados observam os lençóis dançarem diante do vento emitido pela brisa tranquila da janela, há alguém o observando e sorrindo com impureza em sua boca e em seu rosto velho, que diz "- chegou a hora meu amigo, quando o relógio soar o ar da meia noite você já estará no verdadeiro mundo". Os fios de sua cabeça branca começam a se desvanecer como areia atirada no vento, seu rosto enrugado começara a perder as formas naturais humanas. Ao meio do silêncio uma luz surge ao fundo de seu quarto;a única linha de memória agora começara a passar como um mistério, absolvido pelo seu coração badalando devagar e os glóbulos oculares revirando-se lentamente. O filme macabro de sua inútil vida passara pelos seus olhos. Ele se questiona com indagação com lembranças estranhas de tempos estranhos, "valeu a pena?", a única resposta é o fatal e esmagador silêncio... apenas o silêncio. O relógio da cabeceira de sua cama mostra onze e cinquenta. Seus ossos contorcem-se e dobram-se até alguns estalos começarem a ressoar no frio.
Os fios de memórias vão e vem em paradas de segundos. Segundos frios e não-aconchegantes. Memórias, que, entre as paradas dos segundos assombrados, eram a única que coisa que ainda lhe restara... A única coisa que ainda que fosse ruim, o manteria vivo como um ser humano.


- O relógio tiquetaqueia devagar, parece um martelo acertando um prego, quando o cenário vai se abrindo... revela alguém com uma câmera e alguém posando para as fotos. Não era um martelo, era o som da máquina fotográfica, o dedo deslizando para o botão e fazendo vários tiques e taques...




10 minutos -


- Danny, meu amor olha para a câmera aqui. Isso, vou registrar cada momento - diz o senhor Walter.
- Ah não... depois vai ficar enchendo o saco mostrando essas fotos - em um tom que mostrara que não queria, mas que na verdade, amara aquilo tudo e fingia não gostar. Mas Walter sabia bem... sim ele sabia.
- Ah eu a perturbo? - soltando a câmera e indo em direção a ela, como um arco pronto a disparar; ele segura por sua cintura e a levanta para si;suas pernas encaixam-se em sua cintura jovem. Seu peso de cinquenta quilos modelado em um vestido branco que parecia prata, para ele, eram apenas "alguns".
- Que tal me dizer agora bem pertinho do meu rosto que eu a perturbo, que tal? - Seus rostos se tocam, e ele sequencia alguns beijos diretos em seu pescoço. O cabelo ruivo cai por cima do ombro direito, ela apenas meneia a cabeça para afirmar falsamente de uma forma amorosa. Os dois caem no chão. Ela em cima navegando o barco. Ele embaixo, fazendo, bem, o que lhe era propício àquele momento.

A noite cai como uma flecha que fora disparada do arco e voltara para o chão. Os olhos verdes cintilam como um vaga-lume, como um bem grande. Senhor Walter está à observar-la, seu olhos se juntando com o céu e formando uma nova estrela, uma esverdeada, como uma pedra de jade.
Como prometido, era apenas uma noite, ela seria a mais amável possível. O amor iria desvairar de seu corpo por falta de espaço, não haveria brigas ou confusões. Apenas - amor???, dá um pouco de atenção para mim, estou aqui olhando esse céu, e você aqui comigo, retribui meus beijos? - uma voz doce e suave como a água se transformando em vinho...No final da noite seu corpo iria desalmar, estaria um vazio tão solitário que ele mesmo (talvez), iria terminar o serviço. Mas ele não fez. Apenas esperou com o braço enlaçado em seu pescoço, enquanto ela beijava seu pescoço em lábios gelados que ficavam a cada segundo um pouco mais, até parecer cubos de gelo tocando sua pele. Aos poucos ela foi parando e esgueirando-se para o lado, deslizando em suas costas parecendo uma massa gelatinosa.
Sua mente entona um ato trágico à cena, seus dedos cospem suor e suas pernas tremem.
"- O inevitável - ela se fora, mais uma vez"

Mais um fio de cabelo e uma ruga na testa. Seus pés agora raspam um no outro para conter o frio que chegara.




9 minutos -


Um tempo solitário sobrevoa a cidade. Senhor Walter era apenas um professor de Bridgeport. Seus dedos estavam rodopiando uma caneta, enquanto a sala recitava poemas de Shakespeare. Mensagens violadas dentro de cartas no canto de sua mesa diziam:

"Eu fiz isso porquê você me obrigou a fazer. Se estivesse presente quem sabe eu não fizesse."

Os desejos são evacuados atrás de grandes óculos. E mais uma mensagem é lida mentalmente de uma forma que sua mente gritava consigo mesmo.

"Não veja isso como um abandono... Veja como uma experiência de vida para progredir na vida... eu ainda o amo, mas precisamos desse tempo, eu preciso te esquecer um pouco e você deve me esquecer também, quem sabe não saberemos a falta que um faz ao o outro. Ou melhor. Quem sabe não encontramos alguém melhor enquanto estamos separados assim."

Seu peito ofega tão pesadamente que faz uma voz infantil perguntar o que ele não queria responder.
- Está tudo bem, professor? - Charlier, um garoto de doze anos que sentava na primeira cadeira da sexta-última fila ao lado da grande vidraça da sala. Usava cabelo à escovinha. Tinha um sinalzinho negroide na mão direita, e era loiro.
- Eu estou bem, é só... - ele se dá conta que está falando com uma criança e não um ombro amigo, literalmente. Eram boas pessoas mas não entenderiam de maneira alguma o que se passava, como ele pensou... - "eram apenas crianças" - uma dor de cabeça, filho. Isso. Uma fraca dor de cabeça que logo-logo irá passar! - o tom da sua voz se mostra fraco, mas independente...
A ponta de seu pé toca o chão para cada "Tic-Tac" do ponteiro do relógio, ansiando a partida. Desejando o toque final para terminar seu maltrato diário. Sua alma estava torturada por um velho amigo e sua namorada, meia noite e ele a viu, trocando beijos da forma que eles trocavam. Ou talvez, lastimavelmente talvez melhor. A solidão corroía seu estômago até o ar subir pelo tubo da garganta e colocar os alfaces,arroz, e claro, um toque de solidão para fora.
"Um almoço pobre para uma alma pobre"- era um pensamento dramático.

Alguém lhe toca o ombro -

Era Jason, 11 anos. Cabelos negros, pele negra, olhos azuis. Um garoto que no futuro se tornaria alguém de sucesso, era muito inteligente, muito mais do que qualquer outro da classe e das duas seguintes;se ele soubesse o que era "pular séries" naquele ano, certamente o faria. Seus finos dedos lhe passam uma suave folha branca, seu ouvido produz um zumbido histérico até as coisas ao seu redor se fecharem em silêncio. O garoto apontava e falava sobre o que havia desenhado, mas ele não escutara nada, era evidente. Jason era órfão de pai e mãe, criado pelos tios. Imaginava o professor Walter como seu pai, pois ele, lhe dava atenção... - rabiscado em algumas formas redondas e retangulares e etc... saindo em forma de balões de fala. um desenho de um adulto com gravata. Lhe dava amor - perdido em um recreio qualquer, o adulto de gravata lhe dá uma maçã que estava ocultada dentro da bolsa. Brincava com ele - na aula de português, comparando ele com o desenho da lousa, fazendo todos rirem, inclusive Jason.
Um abraço ratificante lhe é dado. Os passos correm para ir embora ao ouvir o som da buzina do transporte escolar. A solidão o toca novamente em baixas escalas até crescer aos poucos novamente. Provas e mais provas para corrigir na sala dos professores, mas era estranho, apenas ele estava lá. Ninguém para conversar sobre o dia ou lhe deixar desabafar um caminhão velho de areia densa que lhe ocorrera durante a semana anterior. Simplesmente ninguém.
Ele conseguia ver ainda a sombra feminina rodopiando com ele naquela sala, eles estavam em casa, e a memória lhe é farta: " - Sabe dançar tango? - Não, mas sei observar. - Não seja idiota Walter, dance comigo... lhe ensinarei cada passo que aprendi com minha mãe, é fácil... - Eu espero que seja sim..." ; Primeiramente alguns passos errados e pisões, mas ele vai se soltando e aprendendo como um bebê dando primeiros passos e depois começando a andar direito, e logo após, correndo como o vento. À sua esquerda, por entre a porta entreaberta, outro professor do turno da tarde com outros alunos já mais velhos dizendo,"a sociedade atual vive em constante imediatismo", sua cabeça gira um pouco retomando uma frase "não veja isso como um abandono... oh desculpa... veja isso como um rapaz deixado à deriva no polo ártico para morrer congelado". Sua cabeça entra em confusão mútua, seus pensamentos se embaralham. O seu lado culto de professor da melhor escola de Bridgeport vai embora em poucos segundos. Uma névoa paira sobre a sala. Havia literalmente um furacão ali pelo qual ele estava no olho, algo tão simples e tão complicado ao mesmo tempo para ele. As palavras "abandono" e "Dance comigo Walter" se misturam como uma vitamina no liquidificador se tornando uma frase mais esclarecedora para ele naquele momento, "Dance comigo Walter. Dance como meu marido, essa será nossa última música. Depois nós jamais nos vemos na vida, pelo menos não nessa... não nessa... não nessa... não nessa...", as palavras "não" e "nessa" ecoam e ecoam, até elas voltarem para ele como uma furacão fazendo uma curva e acertando uma casa de cheio. Suas provas rodopiavam junto ao vento no ar e na névoa fazendo-o ficar com a visão escura e mais escura cada vez que as palavras ficavam mais altas e assustadoras. Elas encontram o caminho de sua face, assim como um furacão faz uma curva e acerta uma casa em cheio, e sua cabeça começara a rodar de verdade, até sua visão ficar como um vazio, um vácuo, um escuro onde ninguém se atreveria acender a luz, e antes que seus olhos se fechassem completamente, ele se dá conta que de fato ele estará delirando e neste momento estava entrando em um desmaio, um desmaio tão fino e suave que ele mesmo só se deu conta quando viu que nenhuma parte do seu corpo respondia mais, e a visão fechada é claro...
Antes de apagar completamente ele sente uma voz sussurrando em seu ouvido,
"Você já está fazendo besteira novamente? Seu porquinho, deixa a mamãe cuidar disso para você..."


A lua agora passara por uma pequena temporada de nuvens negras que prejudicialmente tiraram a única luz que havia passado pela janela e entrara no quarto, e que agora, estava indo embora lentamente, assim como sua alma...




8 minutos -



Uma voz feminina e nada doce naquele momento, era falada espontaneamente de forma azeda que ficava ácida à cada palavra saída daquela boca com um sinal cabeludo, que parecia conversar com você também(parecia mesmo que tinha vida própria), se mexia para cima e para baixo de acordo com o enrugamento da boca. Senhor Walter não sabia se olhava para os olhos do rosto ou os olhos do sinal cabeludo(se é que aquilo no meio que emanava um pouco de pus era um olho), a situação se tornava pior quando ela suava, e o suor fazia uma camada que se parecia um bigode, mas ela não hesitara em limpar, apenas coçava friamente o sinal.
Sua boca pausara severamente em curto período de tempo para fazer um bico com os lábios e dizer apenas "Hum", "hum":
- Senhor Walter... Infelizmente você está com pedra nos rins. O resultado diz por si só que há cálculos renais bem grandes para serem dissolvidos apenas com medicamentos. Você precisará de uma ureteroscopia, e urgente - novamente torna a coçar o sinal - Deixe me ver... ... Também precisará de...  ... - diz Gertrudes passando as folhas para trás desinteressante em todos os parágrafos estampados nas folhas brancas, sua cabeça apenas meneia para cada folha passada adiante - Um exame de sangue novamente!
Era só o que ela tinha a dizer como das outras vezes que ele esteve lá(talvez ela estava guardando os frascos e colocando em potinhos para experimentos, pelos quais, ela provavelmente queria fazer com ele), "precisa de um exame de sangue para alimentar esse sinal com todo ele escorrendo por cima do meu bigode de suor; isso lhe traz ânsias de vômito? eu espero que sim, Senhor Walter..." era só o que ele conseguia pensar naquele momento. Provavelmente era apenas rotina, para saber se ele ainda estara "bem", definindo exatamente a palavra "bem" seria:
"se ele não estava mais acabado do que ele estava naquele momento".

Sala de coleta sanguínea -

Os corredores do hospital eram como corredores estreitos de um labirinto; a cada vez que você entrava por uma porta, era um velho cenário inteiramente igual ao anterior e isso dava a impressão de um hospital de terror de filmes dos anos 70, que quanto mais você corresse para fugir, mais preso você se encontrava. E nesse filme o vilão seria a "Abominável Gertrudes" - estrelando em um vestido verde de bolinhas cinzas e minúsculas um tanto pouco vulgar, apertada como um maço de notas em uma liga, era ela naquele jaleco branco que o botão estava a curtos passos de estourar. Suas pernas estavam cobertas por inúmeros fios brancos, que fazia delas cabeludas e velhas. Seu tamanco de madeira pintada com engraxate certamente, parecia eletrônico que a fazia se mover quase como um robô, na verdade, um pássaro dando rasantes pelo chão gelado daquele corredor, que ia ficando distante e mais distante até finalmente se perder de vista.
Um zumbido toma conta do corredor, tão alto e forte que fizeram Walter cair sentado tentando evadir o som perturbador com as palmas das mãos em ambos os ouvidos.
-"Senhores, dirijam-se à sala de coleta sanguínea...Walter nós ainda pegaremos você!"
Os alto falantes pararam de funcionar momentaneamente por um som de estática, deixando a voz no final com um som agudo lentamente transformando-se em grave até pifar.
- Senhor Walter, quer ajuda para se levantar? - dizia Gertrudes, esticando-lhe o braço.
- Si-m-, sim - gaguejando Walter responde.

Depois, já na sala de coleta, passara em sua cabeça como a velocidade de um relâmpago em um dia de chuva; se aquilo não houvesse acontecido daquela forma, é claro; eu poderia tê-la dito "nem seu eu de fato precisasse"

Ao seu lado, há um homem lendo uma revista sobre futebol, ele olha nos olhos de Walter. Ele sabia que de alguma forma, aquilo, aquele homem, não era quem estava no controle do próprio corpo. Era uma entidade obscura que perseguia Walter por anos, ele somente dizia:

- Ninguém foge de mim... Você teve o momento que queria ter sem ninguém o atrapalhar. Foi bom quanto durou, "bebezinho"? Agora você me deve sua vida, e isso está perto de acontecer... Eu estou mais perto do que imagina, eu,

sempre estive...









(Continua) -




quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A maldição de Saga (prologo) - (personagens)



A luz em Dartmoor se expande por vastas regiões contornando todo o seu terreno. Havia amontoados de pedras, que se visto à distância, pareciam gigantes agachados. Morcegos se recusavam a voar próximo da região, eles voavam longe, longe o bastante para sentir algo em suas cabeças irracionais que estavam seguros.
Casas se encontravam estranhamente iluminadas por pingos amarelos encobertos em uma aura de fumaça. Velas eram caras demais (não porque eram uma população pobre, mas a razão eram bem mais simples. Ninguém precisava ver o que estava na escuridão e o dinheiro gasto em velas poderia ser gasto em outras coisas que eles "julgavam" mais importantes - somente pretexto para dizer que sentiam medo e quanto menos atenção chamar, melhor) e por isso só eram usadas durante a noite e em poucos lugares, lugares estratégicos.
Havia animais correndo em bandos, sempre. De alguma forma até eles sabiam do perigo eminente que rodeava aquela cidade e todo o seu quilômetro. Coisas sujas, coisas ocultadas ou que na calada da noite, não queriam se mostrar.
Na ausência da luz era compreensível que exista água fluindo, apesar de você só conseguir se deparar com o rio que corta a cidade durante a manhã. Você a ouvia, mas era confuso, a escuridão comera tudo pela noite e devolvia ao nascer do Sol.
Havia uma antiga capela onde semanalmente ocorria alguns cultos católicos - puxados pelo padre Joseph como carneiros indefesos - e prosseguiam até finalmente terminarem perto do início da noite, não tão cedo e não tão longe - Todos estavam bem cientes à respeito.


Não estavam?


Quatro meses antes - 
Antes dessa merda toda -
Depois do escritor decidir que é hora de parar de gastar travessões à toa -
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24 de fevereiro, em ano desses aí.


Um tipo de música celta e ao mesmo tempo medieval o suficiente para deixar o clima feliz e espontâneo tomava conta dos arvoredos recurvados, das flores coligindo na descida de morros ou organizados em alguns jardins ou até mesmo algumas singulares que se encontravam recebendo Sol ou até mesmo enfeitando janelas. Havia espaços vazios de terra frouxa, prontas para receber sementes. Os irrigadores pareciam dançar, exibindo rebolados compridos para esquerda e direita e depois rodopiando-se, logo após, uma seção de jatos que fazia parte da música em uma seção sem violinos, somente gaitas.
A flauta entrava em seguida em um tom doce demais para pegar em seus ouvidos;entrava junto aos açoites de arados esmagando a terra e preparando-o-as.
Abundância - Isso era somente um simples e curto substantivo feminino que poderia ser usado consideravelmente - Mas a cidade progredia muito bem para usar somente a palavra "Abundante".
Havia minas abandonadas e existiam minérios preciosos ali, não existiam mais trabalhadores suficientes e dispostos à trabalhar lá. Os antigos mineradores estavam velhos e sem entusiamo algum, outros morreram. A maioria trabalhava na parte rural de Dartmoor e os que restavam, se não tivessem em casa ou fossem crianças(ambos podem fazer conexão), é claro, estavam em escolas ou contribuíam para o governo crescer ( também chamado de GRCD, que significava "Governo Regente do Condado de Devon", com certeza se pudessem, eles somariam à sigla com "Que Deus salve, o que quer que ele queira salvar" e entre parênteses poderia ficar "Se for nossa cidade, então, tá valendo").
O clima durante toda a manhã era agradável e cheirava à flores de verão ou grama molhada, que para todos que moram lá, ambos davam no mesmo.
Se em todos os lugares do mundo há pessoas que idolatram o costume de pôr a vida dos outros em pauta principal em uma de suas conversas, então dessa cidade evidentemente seria Elizabeth Hitcher e Amber Hollow. Irmãs gêmeas, porém não tão iguais assim. Poderia distinguir facilmente as duas irmãs por seus cabelos em tonalidades diferentes. Pessoas costumava dizer que por Amber ser quem puxara o assunto sobre a vida de outras pessoas, então seu cabelo devia ser branco com manchas loiras estranhamente colorida em um tom doente(a cor loira era apagada ao decorrer dos anos pela idade, não é óbvio?), eles achavam que ela era quem falava mais(e era). Por outro lado temos Elizabeth, da qual todos falavam que se não tivesse ao lado da irmã, era a pessoa mais dócil que qualquer um poderia gostar de conhecer, e por isso seu cabelo era branco-vítreo, gelo ou quase cristalino (lógico que isso era fantasia na cabeça das pessoas) e seu olhar cativa qualquer um, olhos azuis que faziam dela esse alguém "dócil".

Lourence Hermitt Bucket, o tipo de cara que fazia o negócio dar certo. Em tempos jovens beirando seus vinte um, trabalhava como capitão em navios mercantes e viera parar em Dartmoor Deus sabe lá como, quando menos se esperou, começou serviços no banco e se tornou seu dono em meados de 1975. Desde então, fazia o dinheiro ir e vir da cidade (ir e vir para o "seu" bolso - bolso dele). Como ele mesmo dizia - "Dava um tom mais feliz a cidade" - (mentira).
Se quisesse encontra-lo em um dia da semana sem falhar, certamente esse dia seria às segundas e quartas, onde estava desfrutando de um belo vinho feito pela própria cidade, sentado no gabinete do diretor dentro do banco. Era praticamente impossível não reconhecê-lo diante da multidão em festivais anuais da cidade. Paletó azul e listrado (parecia um pijama, sim), olhos sombrios, provavelmente pela enorme e grossa linha de cabelo que ele chama de sobrancelhas, cabelos penteados para trás assemelhados a Johnny Cash e um tipo de voz rouca e baixa. Se quiser mesmo uma informação sem erro para ainda sim encontra-lo na multidão. Então. Procure ao seu lado, alguns sujeitos de mesma estatura e com mesmos ternos em cores diferentes, pois esses, eram seus empregados que também trabalhavam no banco e se reuniam nos mesmos velhos eventos.(ninguém tinha o que fazer mesmo).
Steve Hollow (ele não era nada dela, felizmente, para ele), 23 anos e um corpo jovem e forte.
Sempre andara com macacão jeans e por dentro uma velha e rasgada camisa de lenhador. Herdara a fazenda com 15 anos e cuidara desde sempre. Tinha barba mas isso não o deixava tão velho assim. Seu andado era puxado pela perna esquerda por um incidente com o trator de seu pai quando tinha treze anos. Seu pai(Andrew Hollow) o deixara no controle enquanto desviava acenos e beijos para sua mulher Danna Hill que estava de pé na varanda, neste inútil e curto período de tempo o trator passou por um relevo no alto de terra e desequilibrou a ponto de arremessar o franzino treze anos para a direita, fazendo-o cair desconcertantemente por cima de uma pedra afiada, seu pai caiu para o mesmo lado e em cima do garoto;no ar ele tentara mesmo algo para não cair em cima do garoto, falhou miseravelmente;sangue espichou como um dos jatos de irrigação na blusa de Andrew, por pouco ele não perdeu a perna inteira, foi com absoluta certeza, sorte. No hospital barato da cidade (não existia lá quaisquer tipos de remédios ou anestesias boas à idôneo para casos assim), tiraram parte da pele de suas nádegas para preencher o espaço em sua perna, já que, o tecido fora inteiramente carcomido e o que restou fora apenas uma extensão seca como aquelas terras fofas em um vão de veias,artérias e músculos. O que sobrou quando chegaram em casa foi um trator deitando à luz do Sol e uma pedra, afiada um tanto, sangrenta e cobertas de tecidos e um pouco de carne. Alguns corvos estavam ali saboreando aquela carne, Steve tivera certeza de que viu um deles olhando fixamente para sua perna e depois lhe sorrindo macabramente, eles degustavam e gostavam de toda aquela carne fresca e Steve sentiu-se enjoado, imaginando-se deitado em cima daquela pedra em um outro final, um mas terrível. Ele caindo de costas ali e o peso de seu pai o fazer se partir ao meio, isso era o que ele via quando olhou para os corvos em cima da própria carne. E isso era o que os corvos faziam, olhavam e abaixavam-se escondidos por trás de capas negras, capas que permitiam eles voarem, em um truque de mágica poderíamos dizer que eles desapareciam. Porque de fato, eram coisas inventadas pela sua cabeça e não havia nada ali, a carne ainda estara lá em cima e o que as devoraram eram minúsculos mosquitos. Não havia nada ali - Não! - Pois eles já sumiram e somente reaparecerão em uma outra oportunidade que terão de ver o garoto gritar de dor ou medo, próximo de sua morte. Desde aquela idade ele sabia que quando morresse, eram aqueles corvos que viriam busca-lo.

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Emma Thomas. Geralmente sua fazenda era que a que mais prosperava. Em certos tempos era compreensível que algumas fazendas não conseguissem progredir tanto em suas colheitas, por razões que incluem tempo,clima, vigor e trabalho suado, que nem sempre todos ali tinham o mesmo ritmo por todo o ano. Mas ainda sim, Emma não perdera a dianteira.
Sempre contratara fazendeiros para exercer trabalhos mais pesados.
Seu marido falecera de uma doença rara que mais tarde se tornou a "doença de Huntington", uma doença neurológica degenerativa.
Um dia antes do óbito se concretizar em cartas falsas de amparo ou de condolências, tinha até uns que se atreveram dizer que era amigo íntimo e que sentia muito - ela sabia que não - enviaram cartas e em 2 dias toda a cidade compareceu no enterro e Emma teve de suportar perguntas do tipo "- Como você se sente?" ou um simples discurso dizendo "- Pessoas vem e vão..." (é inútil demais para colocar aqui). Ela lembra de tê-lo visto levantar do caixão e pendurar as meias de natal dois meses antes do verdadeiro dia, era como ele sempre fazia, e depois andar até a porta e soltar um assobio pedindo para o cachorro entrar que também morreu muito antes dele, mas era um costume que se prolongou durante anos. Voltou até a sua cama e beijou sua cabeça como sempre fazia e dissera " - Tudo ficará..." - ela sabia como terminaria a frase e a última palavra se desvaiu em um calmante vento tocando as pupilas de seus olhos e fazendo-os fechar. Abrindo novamente mais tarde com o som de um despertador de cuco que logo alarmaria que nove horas haviam se passado, fazendo Emma pular da cama e olhar dentro do caixão e ver somente um item estranho, um que não estara ali antes, algo que permaneceu perdido por vários anos.
Uma coleira com o nome "Lenny" enroscada entre os dedos gelados
e calmos de Henry.

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As irmãs Hollow ou irmãs Hitcher, ou "capetas de vestido da cidade de Dartmoor".
Cresceram em uma fazenda nos arredores montanhosos de alguma parte dentro do Maine. Aprenderam a fazer tudo dentro de casa e trabalhos práticos de quem mora no interior. A fazenda se localizava aos pés da montanha. Onde as duas sempre subiam para ver o contorno da cidade e a beleza vista de um ângulo superior. Curvas e mais curvas, lá de cima dava para ver uma boa parte do mar. Elizabeth sempre dissera que iria casar com um marinheiro que a levasse para além da linha do horizonte, onde relatara com certeza de que há um futuro prospero do lado de lá. Amber sempre achou isso uma grande bobagem e sempre falara para a irmã que no mar havia monstros ocultados por debaixo da maré alta que esperavam idiotas que procuram outra vida, para enfim, atacar.
E do outro lado do horizonte há o soberano deles, alguém que esperava as embarcações para se alimentarem de seus tripulantes para perdoar os mais fracos, como se fosse realmente um pecado nascer menor e mais fraco, e que não podiam se alimentar primeiro do que o soberano, teriam de brigar entre si pelos restos mortais dos tripulantes e era assim que alguns ganhavam força ou acabavam morrendo.
Amber sempre tivera um temperamento alto, sempre tivera ações semelhante aos dos homens. Nunca se casara e durante toda a juventude só se esforçara de verdade para se aproximar de outras pessoas do mesmo sexo. Pintou o cabelo de loiro na adolescência para ficar igual a uma modelo britânica da época e atrair mais olhares do público em geral. Fizera teatro inúmeras vezes mais nunca exercera um papel de grande valor, estava topando alguns papéis para ficar mais perto de Brittany, uma garota meia russa e meia inglesa.
Elizabeth sempre fora a criança mais amada das duas, e sempre fora a mesma velha criança de sempre. Comprava bonecas até depois que a idade chegou para costurar roupas e vesti-las como "donzelas" - era o que ela costumava falar. Se casara uma vez e abandonara a irmã por quase 2 décadas, até voltar para casa de seus pais novamente com parte da herança de Sr. Breegs e retomar uma amizade que dura até os dias de hoje, ela a perdoou porque sabia que ela não voltara de mãos abanando e queria ficar com parte do dinheiro e se mudar do Maine.
As duas compraram uma casa em Dartmoor pois gostaram do clima e natureza de lá (mas a verdade é que as jóias da mãe delas estavam enterradas no quintal da casa onde compraram, apenas Amber sabia disso - Uma vez no quintal escavando no local demarcado com uma pá que rangia no cabo demasiadamente, não encontraram nada e depois Amber teve de cumprir a promessa que estava escavando para fazer um jardim, uma promessa mentirosa para que Elizabeth a ajudasse no serviço pesado para ela engolir a recompensa). Durante o evento que acontecera no quintal da residência, Amber viu alguém debaixo da árvore aproveitando o Sol e resolveu fazer algumas escavações pela área, à medida que se aproximava a imagem do homem sentado ia se tornando uma mera miragem e desaparecia pouco a pouco. Passando um tempo lá ela descobrira uma mão segurando dois olhos que pareciam muito de algum tipo de brinquedo estranho dos tempos de criança, não há 4,5,6 décadas mas há quase um século.
Depois do ocorrido pelo quintal, um rapaz que aparentemente viverá cinco décadas de sua vida com total vigor como uma águia velha mas ainda experiente, passou a visitar Elizabeth todas as noites. Conversavam à luz das estrelas, relatara que antepassados dele haviam morado na casa e deixara algo lá, e que lhe é estranho que eles não tenham encontrado nada de errado pela casa, se questionado, mudava repentinamente de assunto.
Quando dias de tempestade chegaram a cidade, ainda era surpresa que ele viera toda noite e conversavam na fachada da casa diante de um tempo cinza e estranhamente iluminado, até um dia Elizabeth ceder e o chamar para adentrar seu quarto. Onde rolaram e rolaram por cima da cama, ela pedira para ele aguardar enquanto ia ao banheiro e ao voltar não encontrou mais ninguém, nem sinal de que houvera um homem tão experiente deitado na cama, ela encontrou o quarto arrumado como se jamais houvesse deitado e bagunçado toda a cama.

Na sala de estar principal da casa havia uma única luz de um tipo diferente de vela, a luz dessa emanava mais forte.
Uma mão de brinquedo aberta, sua mão estava vazia, não haviam glóbulos oculares como antes, não havia nada.
Embaixo da vela servindo de apoio para a parafina que derretia e passava para o estado líquido, havia um único cartão vermelho dizendo:

1878
Novo brinquedo disponível em nossa lojaJeff - O brinquedo que desmonta 
Feito pelo nosso Doutor brinquedo, 
Toby Mcalister.
Ou se preferirem...
O homem que não sai dos cinquenta.
Companhia de brinquedo, Toy-toy-Now!
©Copyright 1871




E no final havia um único adesivo de um smile sorrindo dizendo:



Vale um brinquedo!





segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A maldição de Saga (prévia)


Ele ouve. Tão alto quanto o seus ouvidos puderam suportar até se contrair em uma grande bolha de sangue saindo de seus buracos auditivos.
A sala e o grito e todo o cenário ao redor dele perdera totalmente o som.
Certamente ele está completamente surdo, mas ainda vivo, e sentira aquilo chegar por suas pernas. Tão certo quanto calafrios que começavam a aparecer por sua espinha, era um sinal que fazia contra-ataque falho ao anúncio de morte. Ele sentia as vibrações ao seu redor. Sentia a rapidez com que viera aquilo, e também, lá no fundo, não superficialmente mas instintivamente,
sentia ser observado...
Estava surdo, é verdade. Mas de alguma forma ele ouvira as próprias batidas cardíacas quase conversarem com ele como em um código numérico, para cada batida era um passo próximo dele. Uma tortura dizendo, não progressivamente, mas regressando,
3,
2,
1...
Era tarde, aquilo
já estava
aqui.


Gritos no milharal são escutados por entre as ruas de terra e árvores curvadas até atingir a cidade de Dartmoor. Até as pedras pareceram se esconder por entre a escuridão.
Todos estavam ocupados enroscados em seu próprio sono. Os que restavam, segurando velas e caminhando por entre os vãos das próprias casas, não se preocuparam.
Pois para eles, eram apenas hienas brigando ou ululando entre si.
Mas a paz é cortada com o som dos ossos se contorcendo dentro de uma boca de apetite voraz. Era percebível que o som viajara quilômetros, mas se fossem hienas, elas não teriam a força de produzir o som em tal altura. Até aqueles que se encontravam pelo chão ou pela cama, apreciando o sono profundo, se depararam com uma onda negra por suas camas e cabeças, revertendo um belo sonho em um pesadelo terrível e cruel.


A maldição de Saga, chegou até eles...

E cada um sentiu como se fossem eles dentro daquele par de sapatos, sentiram os ossos quebrarem como palitos de madeira, como uma bolacha de água e sal sendo esmagada e triturada até fazer daquilo alguns minúsculos pedaços.



















 

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