quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Churrasco é bom?
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...
Sangue se estende pelas paredes do banheiro. Gritos são escutados no porão. Quer dizer que o trabalho não acabou ainda, seu idiota! - Pensa Billy, o aleijado, embora odeie esse apelido.
Olhos de garotinhos estão fixados atrás de grades, esperando para ver quem iria ser o próximo. Havia duas equipes de moleques entre dez e quinze anos, enjaulados em dois cubos metálicos deixando-os sofrendo ainda mais por estarem agachados lá dentro, e separados, sustancialmente na diagonal.
Quadros de Patty the Loadcrz estampavam o quarto com cheiro de mofo e óleo mecânico, junto com peças de carros abandonadas e cabeças de porco empalhadas. O homem era o Freddie Kruger da vida real.
- Como vamos sair daqui, James? - Perguntou Tommy, com seu cabelo de cuia loiro sobre os olhos e contendo choro, - Como raios vamos sair daqui? - o choro veio.
- Fique quieto, Tommy, fique quieto. - Disse James com sua voz o mais paterna que conseguia. Apesar de serem irmãos.
- Crianças - Diz Billy, alegremente. - eu participo de um projeto social para acabar com a fome na África, e vocês - ele aponta para os garotos, por um momento fingindo esquecer o fato de que estava coberto de sangue e todos estavam assustado com a faca que pairava em uma das mãos - Vocês, sim, vocês, que vão ajudar de bom grado amigos que estão com fome, irmãos, pensem nisso, - ele acentuou bem essa parte - IRMÃOS!!!
Botou o a faca entre a cintura com a barriga gorda.
- Isso é para diminuir nosso medo? - toma a frente, James.
- Então temos um lobo zangado aqui no meio?
Ele puxa a faca, como um gângster saca um estilete.
James se retrai. Fica escondido no fundo da jaula, de cócoras.
- Não. Não, não. Você é só um maldito carneirinho. - Esconde a faca novamente, fazendo-a se perder no meio de banha e suor e panos, na cintura.
Kennan é um garoto negro que foi sequestrado do lado pobre do Brooklyn, um garotinho gordo que usava uma bandana do Run Dmc e tinha uma voz fina como a de uma garota de nove anos.
- O que temos aqui? - Alarga os olhos, Billy. - Uma obra de arte de último nível. - Kennan olha no fundo dos seus olhos e percebe que ele não está brincando. O pé esquerdo começa chacoalhando em um ataque de ansiedade que não tinha desde os 8, há 4 anos antes. E o gaguejo que sua fonoaudióloga tinha resolvido há dois e meio, voltou a toda pressão.
- Fi-fi-if-fi-fiiiffiiqififiiq - ele puxa o ar com a boca, como se em último suspiro - Fique bem lon-gede mim!
- Conseguem ver garotos? Vocês só comem porcaria, mas este aqui, este sabe o que é passar fome e come o que tiver e em grandes quantidades. Ou seja. - Ele dá uma virada, fitando todos os demais participantes, digna de um Oscar de melhor atuação, senão fosse uma cena de terror. - Este aqui é uma obra de arte. - Interessante como obra de arte soou tão fina e patética que poderia ter sido dito por um garoto de três anos relatando uma palavra nova que aprendeu em um desenho animado.
Billy abre a parte superior da jaula, com cuidado, porque ratos trâmites não davam folga.
- Venha cá seu monte de banha! - diz, com a mão tentando puxar Kennan pelos cabelos, mas alcançando a bandana. - Ora seu moleque de merda!
Kennan olha para a escada. Ele pensa: Scott Pilgrim contra o mundo, eu contra a escada. - E corre em direção a ela sem olhar para trás. Toda a platéia de garotos o encoraja. Vai Kennan! Vai negrinho bão! tinha pessoas do interior e de toda as demais partes de Rust Hill lá. Vai seu negro fodido!
E ele foi.
Mas... Deus dá e Deus tira, pensou Billy e começou a rir como uma bruxa, com as mãos no estômago gordo ele realmente parecia uma.
Um botão escondido na palma da mão, selou a porta metálica no alto da escada. E em ataque histérico Kennan esmurrou o portão e esperneou, gritando, e chorando. A luz que estava a frente dele foi fechada, exterminando sua esperança.
Deixe-o ir Billy, aleijado! Deixe-o ir Billy aleijado!
E todos juntos.
Aleijado! Aleijado!Aleijado!
A fúria não podia ter sido maior. A faca que estava na cintura foi apertada pelo cabo, aço inox sendo amassado (difícil acreditar não, é?) com toda a força do punho direito de Billy. Os dentes rangiam e momentaneamente os gritos foram cessando, era como se estivessem assistindo um cinema mudo de Charles Chaplin de repente. Billy puxou o braço para trás. A perna mancou em luto. O músculo do braço rígido ficou, crescentemente. E ele arremessou a faca.
Não era comum e nem permitido fazer isso na frente das crianças, sua mãe dizia que a carne com medo ficava menos saborosa, e ele resolveu, nesse exato momento, testar isso na prática.
O som estrepitado do crânio sendo perfurado com uma faca de aço inox, foi o mesmo que rasgar uma lista telefônica de uma só vez. E a chuva parecia de irrigação. O garoto a princípio não morreu; foi cambaleando a escada, um degrau por vez, e parecendo que metade do corpo de cima estava desconectado com a metade debaixo, ainda vívida. Até que, aparentemente, o cérebro se deu conta da cena, mapeou onde iria cair, por favor bem pertinho de mim, pensou Billy, e caiu, exatamente perto dele. Os olhos revirados. O irrigador de sangue no buraco na cabeça, ainda jorrando litros. Os garotos, aqueles que ainda tinham sonho com papai noel e fada do dente, boquiabertos e em silêncio fúnebre. Apenas o som de Zzz sendo arrastado do jorrador de sangue.
No outro dia. Na África.
Billy estava com um avental e um engradado atrás dele cheio de carne. Uma churrasqueira ligada e centenas de criancinhas fazendo fila para comer o Churrasco do Tio Billy. O melhor e mais gostoso, ele costumava ensinar o lema para os pequenos.
- Esse é o último churrasco, Johhny-dunkie-dooguie - Disse Billy, fazendo piada com o garotinho.
- Mas e o resto dos meus amigos, tio Billy? - perguntou, com as sobrancelhas baixas, triste.
- Não, amiguinho, este é o último desse engradado - Ele pousa a mão em cima de um dos vinte engradados, este agora vazio. - Ainda há mais dezenove caixas do tio Billy para tostar.
O garoto sorri indo embora, saltando e mostrando para o resto dos garotos o seu prêmio que esperou tão pacientemente para ter.
Depois do serviço, Billy dá uma mordidinha no seu churrasco.
- Parece que carne medrosa a deixa mais maleável nos dentes, e mais macia com um toque de vinho. Mamãe é uma velha louca. Ele ri, novamente, como uma bruxa. Mamãe é uma maldita velha louca.
Churrasco é bom!!!!!
:D :D :D :D :D :D :D
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