segunda-feira, 3 de agosto de 2015
A maldição de Saga (prévia)
Ele ouve. Tão alto quanto o seus ouvidos puderam suportar até se contrair em uma grande bolha de sangue saindo de seus buracos auditivos.
A sala e o grito e todo o cenário ao redor dele perdera totalmente o som.
Certamente ele está completamente surdo, mas ainda vivo, e sentira aquilo chegar por suas pernas. Tão certo quanto calafrios que começavam a aparecer por sua espinha, era um sinal que fazia contra-ataque falho ao anúncio de morte. Ele sentia as vibrações ao seu redor. Sentia a rapidez com que viera aquilo, e também, lá no fundo, não superficialmente mas instintivamente,
sentia ser observado...
Estava surdo, é verdade. Mas de alguma forma ele ouvira as próprias batidas cardíacas quase conversarem com ele como em um código numérico, para cada batida era um passo próximo dele. Uma tortura dizendo, não progressivamente, mas regressando,
3,
2,
1...
Era tarde, aquilo
já estava
aqui.
Gritos no milharal são escutados por entre as ruas de terra e árvores curvadas até atingir a cidade de Dartmoor. Até as pedras pareceram se esconder por entre a escuridão.
Todos estavam ocupados enroscados em seu próprio sono. Os que restavam, segurando velas e caminhando por entre os vãos das próprias casas, não se preocuparam.
Pois para eles, eram apenas hienas brigando ou ululando entre si.
Mas a paz é cortada com o som dos ossos se contorcendo dentro de uma boca de apetite voraz. Era percebível que o som viajara quilômetros, mas se fossem hienas, elas não teriam a força de produzir o som em tal altura. Até aqueles que se encontravam pelo chão ou pela cama, apreciando o sono profundo, se depararam com uma onda negra por suas camas e cabeças, revertendo um belo sonho em um pesadelo terrível e cruel.
A maldição de Saga, chegou até eles...
E cada um sentiu como se fossem eles dentro daquele par de sapatos, sentiram os ossos quebrarem como palitos de madeira, como uma bolacha de água e sal sendo esmagada e triturada até fazer daquilo alguns minúsculos pedaços.
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