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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

William Bradley Montserrat - O outro cara, penúltima parte.



Will chegara à mesa, com os braços entrelaçados pelas costas, junto a Tommy Benn, e isso provocou piadinhas da parte de Lian.
- Estou com ciúmes Tommy, você sabe que eu sou seu amor. - Todos da mesa sorriem descontraidamente, incluindo Becky que estava, desde quando William Bradley saíra para o banheiro, enfeitiçada por aquela tecnologia chamada "celular". De alguma forma Camille havia percebido uma afeição mais monótona no rosto de Will, e apercebera uma gotinha de sangue quase escondida dentro da curva do lábio esquerdo.
- Que merd# é essa no teu rosto, garoto? - Ela fica com os olhos contraídos, fitando-o.
- Ah - Ele põe a mão atrás da cabeça, expressando confusão - Acho que um mosquito me picou no canto da boca, nada demais. - Ele envia-lhe um sorriso de canto de boca, logo após senta-se ao lado de Becky na mesa.
- O que você acha, esse vestido ou esse? - Becky pergunta, mostrando-lhe a tela do celular iluminada com imagens de vestidos para bailes.
- O que você escolher, estará perfeito para mim. - Ele pisca para ela e é retribuído com um beijo molhado de batom vermelho por seus lábios.
- Sua boca está com gosto de sangue, amor.
- "Eu sei que está acabei de merendar um desgraçado antipático, porém muito saboroso. - Bradley pensa, não é ele ali pensando, mas ele ainda estava lúcido para controlar-se. - Já disse, foi o mosquito. - Ele observara de uma forma repetitiva, engraçando-a.
- Maldito mosquito.
- Pois é.
- Vão ficar nesse namorico idiota ou vão comer? - Lian fala fazendo gestos com as mãos, apontando para a comida. - Se não quiserem tudo bem, o sanduíche do Queen's é tão bom que eu provavelmente comeria dois ou três, até quatro. - Ele acena para Bobbie do outro lado do balcão, e ele devolve-lhe com um abanar de vento com seu bloco de anotações.
Bobbie era o dono do restaurante, garçom e dono. Trabalhava seriamente e reconhecia os garotos (com a exceção de William) que sempre andavam por ali por vagas tardes ou noites de sexta.
- Deixa de ser idiota. - Camille rebate com um empurrão de ombro nele.
A conversa é finalizada nas primeiras mordidas nos sanduíches. Do outro lado do balcão, o garçom Bobbie abre um telefone antigo (modelo que abre e fecha) e disca o número do cozinheiro. Depois de alguns pipes que significavam o cell estava chamando, sempre aparecia a mesma mensagem, "Caixa postal, deixe recado após o sinal" - Estava muito barulho no Queen's naquele início de noite, mas se estivesse em um dia vago, onde há um ou dois sentados na mesa que sempre pedem por fritas e sucos prontos na hora, ele ouviria. Dentro do vaso. Abaixo de 94 quilos de gorduras mortas e apodrecendo, deitado com a cabeça virada para cima e recostada na parede que cercava os vasos sanitários, fitando a luz com olhos-mortos.
Bradley cuidou disso. Na verdade. Ele cuidou de tudo.
Ele passa a língua abaixo dos lábios superiores depois de engolir uma mordida do sanduíche, mas não é o gosto do pão com carne de hambúrguer e todos os demais componentes que estão lá dentro incrivelmente assados, mas sim, aquele sangue que ficou na sua boca e mente.
Will lembra das palavras em francês que a professora havia ensinado para turma no primeiro semestre de prova:
"délicieux, savoureux, remarquable". - O que seria... "delicioso, saboroso, marcante".
Como ele pensou, não fora preciso poucos litros de sangue ou poucos milímetros, até mesmo ouvir aqueles badalares de medo surgir de dentro do coração do pobre homem, foi preciso apenas sentir o cheiro de sangue.



Apenas esse simples gesto despertou a loucura em sua cabeça, a fome. Will se pega recordando:
- Aí cara, tem cigarros aí? - O cozinheiro diz.
- Não, foi mal.
- Problemas na urina, não estou conseguindo botar pra fora, saca? - Ele diz levantando as sobrancelhas. - Então um cigarrinho ia bem para relaxar.
- Eu entendo, gostaria de poder ajudar, mas não tenho nada e nenhum de meus amigos fumam. - William responde.
O cozinheiro adentra uma das portas e fecha-a, deixando a tranca rodar de "livre" para "ocupado".
Levanta as tampas do sanitário e se senta. Respirando fundo, alto demasiadamente. William  escuta, da mesma forma que escuta as batidas aceleradas do coração dele, como se estivesse acabado de correr 12 quilômetros sem perder o pique. Ele começa a cantar Happy-Days e aquela canção ecoa por dentro do banheiro e se abafa diante dos forros de gesso do teto. Will Bradley liga a torneira para prestar atenção em outra coisa senão aquele coração pulsante que provavelmente viria a óbito por infarte.
Uma infame voz vêm a ele e ele sabe como se chama:
-"Está sentindo o cheiro da urina sangrada dele? É um pobre homem, dê a ele uma morte digna. Vamos lá Will eu sei que você quer." - William iniciara uma canção, "Society - Eddie Vedder", para descontrair aquela mente perturbada. Mas é em vão.
Ele escuta aquelas badaladas e vai passando uma mão por cima da outra de forma gananciosa, elas aceleram e aceleram como o coração de um cavalo em corrida. Ele canta a música mais rapidamente. E olha pelo reflexo do espelho.
Vê a si próprio pulando a porta do banheiro e frases do tipo "O que quer aqui cara?", "Não vê que estou ocupado?". Tudo acontece muito rápido, e sangue espicha no teto. Tudo acontece dentro daquelas portas e ele se sente preso do outro lado do espelho. Vira de costas em um lado inverso ao que estava, dentro do espelho, a porta sai de "ocupado" para "livre", seus dedos tocam o buraco na porta que servia como uma maçaneta invisível para abrir e fecha-la quando quisessem, ela vai se abrindo lentamente conforme Will anda para ver o que tinha acontecido ali.
Ele vê o sujeito em um estado péssimo e limpa tudo: O teto, as portas, e usa um pano de chão encontrado próximo a porta. Cobre o rosto do sujeito com o mesmo, mas o pano está escorregadio e cai no chão. Ele dá passos largos para trás e põe as mãos sobre a pia - recostando-se. Respirando fundo.





















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