Há muito sangue no chão e as sirenes policiais estão ecoando à distância. Moradores saem de suas devidas residências, atônitos, chocados.
Um carro se encontra em chamas na rua 7 no cruzamento com a rua 9, mas logicamente o sangue não vêm de lá, mas sim dos pedaços de carne que voaram e caíram no chão debatendo-se como se fosse uma carne de anfíbio que acabara de entrar no fogo com óleo quente.
Detetive McFaless já estara com um pé fora do departamento de polícia de Helmirtis, mas como todo bom policial ele não pode sair até resolver alguns assuntos pendentes em seu gabinete, não que fossem uma obrigação com o governo e ele sabia bem disso, mas ele realmente queria fazê-lo pois senão o fizesse aqueles assuntos iam ser empurrados para calouros (apelido de novos policiais que se agregam a academia, mas que somente estão lá pelo o dinheiro, nada mais e nada menos), portanto eles também não iriam atrás de resolver...
- Esses jovens não sabem da parte boa de ser policial - ele pensa, e olha pra um deles que chegavam perto do corpo e fingia anotar algo em um bloco de notas, McFaless observara bem para a caneta e conseguia ver que não estava aberta, ele fingia anotar algo com a tampa. Então continua. - Não se dá ao trabalho ao menos de tirar a tampa da caneta e fazer uma boa cena de mentira. Como eu disse... Eles não sabem.
Perto dos seus cinquenta e fazendo serviços como detetive há quase vinte e cinco ele sabia realmente o que procurar na cidade. Dentro de seu sobretudo marrom que na madrugada próxima das 2h e 30mim realmente parecia preto-tosco, ele estara fitando todos da rua afim de encontrar algum "ladrãozinho-barato" que depois de cometer o crime permanecia camuflado nas redondezas somente para "não chamar a atenção", o que na mente do Det.Hetter MacFaless era uma bobagem, isso não acontecia com ele no comando, pois ele sabia bem como os ladrões fazia, os quase vinte e cinco anos foram cruéis com ele mas ainda sim o fizeram esperto.
Ele vai fazendo uma lista mentalmente de todos que ele reconhecia e de outros rostos que ele considerava simples demais ou estranho demais.
- O casal da casa 97, Sr e Sra. Wool. A senhora de idade da casa 21, mãe do lenhador que tinha uma loja de penhores na cidade pela qual só aparece para recolher os lucros. Betty Simpson uma prostituta local que se vestia bem e morava em uma casa que um ovo era mais confortável. Casa... - Ele tenta se lembrar com dois dedos na cabeça, coçando as sobrancelhas. - 56. Fim da rua, ou início se ele você viesse do condado de Liberfort e optasse por obter rotas rápidas ao centro da cidade, era totalmente discutível que passasse pela rua 7, e analisando a situação. aquelas pessoas daquele carro estavam nessa trajetória - Ele diz chutando a placa que também voara na explosão e que viera parar próxima ao acostamento onde ele estava de pé. - Como eu disse. - 0987 - CONDADO LIBERFORT, a placa branca dizia. - Ele buscara algo para certificar-se de que não eram da polícia também, porquê caso fossem... então o assassino devia ser um mafioso que devia ter ficado puto da vida com alguns cassinos ou ponto de drogas fechados , trazendo assim prejuízo para seus bolsos. Mas a placa dizia por si só, não era tudo mas era o suficiente para dizer que o dono do carro não era nenhum policial, as placas da policia contém um adereço especial do que nos outros carros, embaixo da localização fica a sigla do departamento pelo qual ele pertence, escrito de forma desapercebida para fazer os carros se camuflarem no meio dos outros.
Ele prossegue com sua analise mental:
- Dianna Thomas, viúva e mãe de quatro garotos, uma mulher excepcional que você se enganaria se não a conhecesse e falasse que ela estava na casa dos vinte, quando na verdade está na casa dos quarenta ou cinquenta como o detetive. E os Foster, apenas um casal simples que zela pela rua que mora, e não tem mais nada a detalhar. O resto eram rostos comuns mas não demais. Ele tenta buscar mais afundo com os olhos abaixo do chapéu social feltro marrom também.
Ele visualiza Vincent Cury. Um trombadinha local que sempre tentava dar uma de esperto. Ele está de pé ao lado de um casal e seus dois filhos, como se fizesse parte da família. Todos estão de um lado da pista ao outro, como não havia fluxo de carros por ali na madrugada, então não havia problemas. Então ele anda por cima da calçada e vai desviando por entre todos, e vai andando declinavelmente fazendo um percurso circular afim de pegá-lo por trás.
Ele se aproxima e consegue ouvir no meio da multidão fervorosa que mantinham-se comunicando-se entre si, sussurros vindos de Vincent, era como se o cara tivesse uma doença mental. Sua testa soava forte, e cada gota parecia um pouco de alma que iria embora do sujeito. O detetive põe a mão em seu ombro. Vincent torna a estar mais nervoso ainda, e agora seus joelhos tremem, desequilibrando-se.
- Vincent, não me diga que tem algo a ver com isso ou que presenciou porquê de toda forma você sempre está "na hora errada e no lugar errado" - ele diz lembrando do que ele sempre costumava dizer nos interrogatórios, fazendo aspas com os dedos mostrando ênfase. - Dessa vez eu juro que saio da polícia com você segurando um decreto de prisão perpétua. - ele diz apertando seu ombro e pressionando cada vez mais forte, sucessivamente a cada palavra dita.
- E-eu? - sua voz trêmula transforma sua garganta em um tubo com uma bola de basquete presa dentro. - Ma-ma-mas eu vi.
Det. MacFaless já sabia que sim, apenas tinha que fazer vista-grossa para não perder a moral em cima de trombadinhas como Vincent. Mesmo agora quando seu corpo estará quase 1/2 de sair do departamento.
- O que necessariamente você v... - Ele diz interrompido pela sirene do carro de bombeiros. E logo atrás o rabecão local. - Bem venha comigo. - ele o puxa pela gola da camiseta branca. Vincent o segue desajeitadamente.
No canto da pista de outra rua, a 9 , longe de todos aquele rostos assustados, está MacFaless com uma mão no ombro de Cury. Olhando diretamente nos seus olhos, mesmo Vincent Cury não conseguir retribuir por causa da sombra que a luz do poste criava em seu chapéu ocultando seus olhos, ele olhava para onde achara que estava os olhos.
- Então filho... Comece.
Vincent desvia o olhar. Outro carro dos bombeiros passa com as sirenes no máximo, e dobra na rua 7. - Talvez ambos os moradores tivessem ligado para o corpo de bombeiros e então mandaram dois carros ao mesmo local achando que era incêndios distintos. - MacFaless pensa, e então aperta ainda mais o ombro do cara, fazendo-o fazer uma careta.
Com seus olhares ainda no final da rua além dos carros, de forma nostálgica ele começa.
- Eu estava procurando o que fazer, sabe? Sem nenhum um puto no bolso o sujeito pira. - ele diz levando as mãos a cabeça de forma à fazer gestos simbolizando loucura. - Todos estavam nas suas casas e os poucos que estavam do lado de fora, ao me ver, entraram rapidamente. Eu sabia que era provável que eu voltasse pra casa com fome, ou talvez sóbrio, um ou outro parece cruel, saca? - MacFaless apenas meneia a cabeça que sim mas pensa: cruel é um cara trabalhar o mês inteiro e você vir e o roubar. Ele gesticula um movimento com a cabeça para ele continuar.
- Eu já estava perto da rua 6, perto da casa daquela véia maluca que estava me encarando com o telefone em mãos, provavelmente ligando para o filho caipira vir me pegar. - MacFaless observa-o e pensa que por enquanto ainda faz sentido o que ele fala, a casa da Sra. Melbourne realmente é próxima ao cruzamento da 7 com a 6.
Vincent se interrompe e tosse, não uma de quem está engasgado, mas sim de quem anunciava uma gripe cheia ou então ele podia preparar o caixão por causa de uma possível tuberculose.
- Então eu percebo um carro me seguindo, é estranho, por quê eu não o percebi? Aquela rua me conhece você me conhece, eu só roubo quando alguém dá mole... - Det. MacFaless complementa:
- Por quê quem arrisca não petisca, algo assim.
- Sim, você pegou. - Ele pisca para aquela sombra acima da boca embarbada, onde ele acha que os olhos estão. Então continua:
- Então levando em consideração as bebidas e um pouco de maconha que estou devendo ao Sr. B - MacFaless lembra desse apelido, Ibrahim Colvitck, o traficante do outro bairro que sempre que fora pego alegava problemas mentais e era solto por conta do juiz acreditar.
- Aquele carro devia ser ele tentando me pegar, mas eu me lembro de dizer que eu ia pagar na outra semana. Ou eu estava muito doido? - Ele, com um olhar de questionação, observa o poste e alguns mosquitos rodeando a luz, dividindo-a.
- Não... eu acho que eu disse sim.
- Diga o que eu quero ouvir, Vincent. - Ele solta as mãos dos ombros dele e agora está de braços cruzados encostado no poste, o qual quem estivesse vindo de longe achara que ele fizesse parte dele.
Vincent ajeita a camisa e começa a olhar para os lados, apavorado, suando litros em poucos segundos novamente.
- Porra... - Ele deixa sair e percebe que de alguma forma o detetive o olhou feio. - Ele vai me pegar...
- Quem vai te pegar Vincent? Me dê um nome ou eu te prendo como cúmplice e toda aquela merda vai para sua ficha.
- Não senhorzinho.... eu estou cooperando. - Ele emburrece o rosto, como um garoto de doze anos faz ao abrir uma caixa de presente no seu aniversário e ver que não ganhou nenhum videogame e sim peças de roupas. - Eu digo, sob uma condição. E aí?
Hetter MacFaless se perguntou quando ele começou a ter opiniões próprias ou cláusulas nas palavras, a ponto de querer negociar condições.
- Bem... eu não negocio com bandido em hipótese alguma, principalmente com você, mas prometo livra-lo de algumas coisas sim. - Ele descruza os braços e aponta para Vincent. - Se por sua vez me ajudar, certo?
Vincent parece insatisfeito e se lembra do que sua mãe disse, sua mãe bêbada: Ou vai, ou racha.
Não era bem aquilo que ele queria para si no momento mas era melhor do que ser fodido por trás sem ter culpa no cartório.
- Certo! - Ele pisca tentando parecer amigável.
- Então. Continue. - Sua mãos balançam desajeitadamente por causa da manga colada no sobretudo. (ele percebeu que estava um pouco acima do peso.)
- Eu parei e percebi que eles também pararam. Fiquei de pé no poste e inacreditavelmente Deus enviou do céu um cigarro, eu pisei em um e me abaixei para pegar, atrás da lata de lixo, como eu sempre ando com meu isqueiro eu acendi. - Ele o tira do bolso e mostra para MacFaless, o acendendo, mostrando que ainda estava em funcionamento. - Daí eu acendi ainda abaixado e me levantei dando a primeira tragada, notei uma arma para fora do carro e me escondi atrás lata de lixo de novo, acho que tive uma recaída.
- Uma recaída? - Ele lembrou de como Vincent era, e aparentemente as contradições tinham começado.
- Eu tinha dado uns tapinhas antes, acho que já posso dizer isso para você não é? - Ele cospe no chão ao lado do próprio pé. - Afinal, já não é segredo para ninguém.
- Realmente não é.
Vincent continua, ainda brincando com a roda acionadora do isqueiro. O que faz Hetter se perguntar o quão legal seria se uma fagulha caísse em sua camisa branca e começasse a pegar fogo, ele não o ajudaria, era o castigo por seu mau.
- Eu então no chão comecei a ligar o meu estado "Foda-se geral", então me levantei e comecei a dar o dedo, era como estar no piloto automático de seu próprio corpo. É reconfortante.
- Talvez seja, talvez não. Mas isso ainda não vem ao caso.
- Ainda não é... - Ele diz acendendo uma chama e observando o detetive por entre ela. - Ainda...
- Continue. - A chama se apaga no vento forte.
- Então eu naquele momento desejei aos infernos que aquele carro sumisse, saca? eu não queria morrer, afinal de contas quem quer? Eu sabia que fiz errado e que estavam me perseguindo, podia não ser mas quem arrisca... - MacFaless o interrompe com a palma da mão esticada, e balançando como um sinal de "Já chega dessa frase por hoje".
- Pois é. Então uma sombra reacendeu do bueiro atrás do carro, posso ser um drogado mais ainda tenho a visão boa. Que engraçado. Ainda.
Hetter sai da penumbra do poste, saindo de sua camuflagem ele dá alguns passos até Vincent. Os gritos do outro lado da rua ecoam, talvez essa tenha sido a hora que começavam a tirar os restos mortais do carro e a população, sanguinária talvez, começasse a enlouquecer como em shows de rock, e também alguns começavam vômitos ou desmaios ao ver as cenas, como no mesmo tipo de show.
- Eu não vim até aqui perder meu tempo com você, Vincent. Se tentar me fazer de bobo eu também fodo você, e o faço com força.
- Não estou brincando... Por Deus eu não estou Hetter. Eu sei o que vi. - Agora o suor começava a cair de verdade pelo rosto.
- O que você usou Vincent?
- Apenas maconha senhor. Apenas isso.
- Tem certeza?
Mas antes que ele pudesse responder, suas pernas babeiam, e aquela tela de água encardida cai no chão, como se uma força espiritual o tivesse derrubado. Hetter sequencia alguns tapas no seu rosto. Mas então ele acorda e fala fragilmente com uma voz entorpecida.
- Só isso, eu juro. vá até... o... centro.
- O que fazer no centro.
Seus olhos já estão quase fechados, e ele sabia que duraria para reabri-los novamente. Então ele solta algo baixo demais, que ele acha que conseguiu ouvir.
- Eva, sabe... tudo sobre... iss.. - Seus olhos fecham.
Hetter bate no seu rosto levemente, apenas alguns tapinhas inúteis. Ele o deixou no chão. A palma de sua mão abre e de dentro rola um isqueiro para o chão. Hetter o pega.
Acende um charuto e anda pela rua 9 até voltar para a rua 7.
Como ele pensou...
Os legistas estavam enrolando os corpos em um papel brilhante, quando a morte se dava por queimaduras assim, esse era o procedimento padrão.
Um dos legistas levanta o braço do chão para juntar a um dos corpos.
- Já é cinco para as três da manhã - Ele pensa olhando para o relógio abaixo do sobretudo.
E a multidão vai a loucura.
Eva Mensfield, uma mulher tão drogada quanto Vincent Cury, a diferença é que ao menos Vincent tem suas horas sóbrias e ela era uma viagem cerebral etérea ao infinito.
Ele deixa aquela cena aos calouros e aprendizes de detetives. Afinal eles são como cachorros com dor de barriga, apenas procurando um lugar para defecar em cima e enquanto eles não acham (o que não durará tanto tempo), Hetter deve resolver esse caso por si só.
Ele olha o relógio de novo.
- Como as horas passam rápido. São três e vinte e não deu tempo para fumar um charuto inteiro. - Ele pensa andando por entre todos novamente mas agora em direção a rua 6 para ir andando "cortando" e chegar mais rapidamente ao centro. Uma taurus.40 estava em um dos bolsos internos dentro do sobretudo marrom, e presa ao cinto na parte de trás uma eagle que não fora presente do departamento (ele comprou à parte), esta a qual ele somente usaria em situações extremas.
Andando com as mãos nos bolsos laterais do sobretudo e com um passo firme ele imagina que se não estivesse enferrujado ou com mal de alzheimer adiantado, então:
Eva Mensfield poderia ser encontrada num lugar que ela chamava de "paraíso-cósmico" onde ela fingia ler a mão dos outros em troca de algumas moedas, o que para ele essa bobagem de misticismo é apenas um rótulo politicamente correto para dizer que você é um drogado com sérios problemas mentais.
Hetter já se encontrava na rua 12 e indo em direção ao centro, poucos quarteirões para chegar aos arredores dos portões do"paraíso-cósmico", a rua estava solitária e o vento uivava. O sobretudo balançava, então ele pára. Está sentindo uma velha sensação de infância - aquela de estar andando sozinho e sentir-se ser observado. Ele olha por cima do próprio olho pelo canto dos olhos, não havia nada ali, então ele se vira por completo.
A rua estava deserta e alguns gatos estavam correndo atrás de ratos, eles cruzavam a rua correndo sem fazer nenhum barulho e então se perdia de vista na penumbra em alguns pontos escuros da cidade, Hetter MacFaless vê um gato preto com um olho de cada cor, e no canto de sua boca há um pequeno rabo, ele encara Hetter em sinal de defesa vendo o homem de marrom como uma possível ameaça a seu alimento. Seus pêlos se arrepiam e Hetter consegue ver, ele cospe o cadáver morto do rato no chão, desmembrado, e corre em disparada ao outro lado da pista se perdendo na escuridão.
Ele fica parado observando a escuridão e se perguntando o que mais há escondido por lá.
Fitas a boca do rato aberta, e então volta ao seu caminho.
E o vento uiva.
O detetive Hetter MacFaless observa do lado de fora o fluxo de pessoas saindo de dentro do atual intitulado "Paraíso-Cósmico", sempre olhando suas mãos e os que saim em dupla conversando sobre algo que ouviu sobre seu próprio futuro. Baboseira de misticismo. - Ele torna a lembrar. Então entra.
No cartaz há uma foto de uma mulher de cabelos loiros acentuados por uma cor branca de velhice, e embaixo ao que desrespeitava essa mulher dizia: "Mãe Eva, a primeira e única no mundo. Vá em frente e descubra o seu futuro." E logo mais abaixo há um painel onde letras estavam emolduradas dentro de luzes roxas, "Apenas alimentando aquele misticismo bobo" ele pensa, e no painel dizia:
"
As luzes se apagam e reacendem, programadas para fazer isso de minutos em minutos.
Do lado de fora ele observa os drogados do outro lado, apenas olhando torto para ele e escondendo algumas coisas em seus bolsos ou sacolas, alguns até jogavam (algo que ele sabia bem do que se tratava) pelo bueiro. Era bom saber que um policial ainda era temido.
Eles se levantam e esquecem alguns calçados pelo chão. Então correm para outro lado.
E Hetter com as mãos nos bolsos apenas entra.
- Se não é o bom homem do governo, sei que está armado, mas por favor não use esses instrumentos mortais aqui, eu peço por favor. - Aquela voz feminina de quem era uma fumante veterana e que por motivos não-tão-convencionais havia parado, diz.
Ele olha para o próprio corpo e então saí da própria surpresa.
- Você me conhece e sabe que sempre ando armado, então não venha com esse papo.
- E eu também sei que você anda com outra escondida aí, eu digo, além da arma do governo?
Hetter fica sem palavras por alguns segundos, mas se lembra de técnicas mágicas que foram ensinadas em um programa do canal da tv por assinatura que ele raramente conseguia assistir todo sem dormir.
- Você errou querida.
- Eu sei que sim. - ela responde. - Quando vai me dar dinheiro para que eu possa responder suas perguntas? - Ela diz. A mesa se abre no meio e outra surge do chão. Revelando por sua vez uma bola de cristal magnetizada, com vários raios elétricos passando dentro.
- Primeiro responda. Depois o dinheiro. - Ele faz um som com o isqueiro de Vincent dentro do próprio bolso, e soa como se fosse o gatilho da arma.
- Por favor, nã... - Ele a interrompe:
- Então eu posso começar?
- Sim. - Ela diz calmamente. - Isso ela não pôde prever, ótimo, é bom estar certo. - ele pensa consigo.
- Vincent me disse que você sabe de algumas coisas estranhas que estão acontecendo por aqui. - Ele lembra da rotina que sempre segue: Para seguir o que um trombadinha fala, para ele estar certo de algo, então aquilo devia ter acontecido mais de uma vez. Então valerá a pena procurar. Ele se recorda do desaparecimento e reaparição do casal Morrigane da rua Brigde para a última rua que faz fronteira com a cidade vizinha, a rua Twin-sands, primeiro curtindo dentro do carro próximo à praia, e depois desmembrados próximo ao bueiro (era como se alguém estivesse filtrando o sangue, limpando a sujeira toda), apenas... lá.
- Você diz do casal que sumiu há algumas semanas?
- Também, eu acho.
- Você não sabe não é? - Ela diz se inclinando na direção dele.
- Sim, sei mas eu somente vim até aqui por quero sua assinatura de testemunha... - Ele diz e ri ironicamente.
- A escuridão foi revelada. O que estava quieto agora está perturbado. Há um monstro na cidade, e aqueles que andam sozinhos com desejos imundos em suas mentes são caçados e limpados do mundo, para sempre.
MacFaless se pergunta que tipo de merda ele se meteu, não por quê achava que aquilo de alguma forma estava certo, mas sim por quê eram dois drogados falando a mesma coisa. O que parcialmente o faz sentir-se bobo.
Ele dá as costas para Eva. Caminha em direção a porta perdido em pensamentos de raciocínios lógicos. Então ele a ouve.
- O próximo desta noite é você Hetter Mac-Faless! - Ela diz apontando para ele. E Hetter apenas acompanha com o canto dos olhos e a mão girando a maçaneta lentamente. - Onde estão minhas moedas. Ela deixa passar algo.
- Você me responderia, e então eu te pagaria, como você apenas continuou essa fantasia. Não tem pagamento.
- Esse seu jeito mesquinho condenou você. Apenas por quê acha que é detetive pode tudo?
- Eu posso tudo. - ele sussurra e sai da sala.
Atrás dele Eva entra em convulsão em silêncio.
Ele não vê e não percebe, apenas sai pensando:
- Eu sei que posso.
Ele volta para a sua casa, certo de que iria deixar isso para os calouros, afinal não tinha nada de produtivo. Hetter cruza de volta para a rua 12 e ela está novamente e estranhamente deserta. Onde o rato se encontrava agora havia um gato e atrás dele, quase oculto, o rato comendo um glóbulo amarelo e observando MacFaless, olhares famintos. O gato ainda estara vivo e miava em um tom que não se parecia nada com um miado, era algo gutural, era um som alto mas ninguém se atrevia a olhar pelas janelas o que fazia ele pensar que todos estavam em seus décimos sonhos.
Hetter anda através da calçada e pensa "Mas que Mer#$ foi essa que acabei de ver?"
Mas seus pensamentos são novamente apagados por um raciocínio lógico que preservara desde que entrou para a polícia.
- O casal Morrigane já tinham passagens por posse de drogas, o que me faz pensar que tudo o que aconteceu foi uma vingança do crime organizado. - É quase que uma certeza, ele sabe.
- E tudo o que deve ter acontecido naquele carro, possivelmente, foi o mesmo. E mesmo se não for? quem se importa? eu vou sair antes de enlouquecer... como minha avó falava: Antes tarde do que nunca.
Então anda pelo umbral da cidade. Cruzando a rua 6, deserta, e entrando nos trilhos novamente na rua 7. Também está deserta. Nenhum pio da cidade, e ele olha para o relógio mas este também parou de funcionar, fechando o horário 3h40mim.
Não parecia a rua que um acidente havia acontecido, devia haver ao menos uma janela com as luzes acessas. Mas não há. Não há nada. Ninguém no meio da rua abraçado ou chorando, não há ninguém sentado nas fachadas ou luzes emitidas da tv. Apenas o nada.
Ele pára e observa o rastro no chão. Ainda há um braço lá. O que o faz pensar no que realmente estava acontecendo. Hetter MacFaless anda pela calçada e pisa em algo metálico se abaixa e:
- Put$ Merd#! - Ele sussurra. Era a placa do carro. Aquilo tudo devia ter sumido dali quando a perícia forense chegou.
Ele olha para trás, não em direção a rua 9 mas de onde ele viera, e há um carro lá. Não há sinal de vida lá dentro, mesmo ele se sentindo mal como se alguém tivesse tomando sua alma. Sua barriga embrulha e então o carro acelera lentamente, uns 2km/h talvez.
Seu passo acelera e o batimento começava a martelar. Sua testa está pingando de suor, e tudo aquilo estava acontecendo sem ele sequer dar conta. "É como estar no piloto automático de seu próprio corpo. É reconfortante" - Ele vê Vincent de pé dentro de sua mente, dizendo-lhe.
Ele vira para dobrar na nove e o tempo começara a acelerar.
Rua 9 então a 1, depois a 4, então de volta a 7 e novamente virando a 9, e isso continua em um loop infinito, até ele cair no chão. Seu chapéu gira lentamente em direção ao bueiro e se perde lá dentro.
Os gatos saem da área escura. Não somente um ou dois, nem mesmo dezenas, mas milhares. Todos miando em um vocal gutural. Todos sem seus olhos. Vincent está lá no meio sendo devorado pela escuridão.
Os ratos também estão lá, são poucos em comparação com os gatos. A cidade estava silenciosa.
Hetter é levado para o meio e aquilo provoca um arrepio que era como se alguém tivesse injetado gelo em seus ossos. O gelo no começo da espinha passando até o final.
Lá na escuridão você conseguiria ouvir um som de mastigação. E também um som de ossos palitando-se por entre os dentes. Sem nenhum grito ou berro de pavor.
A cidade naquela madrugada estava silenciosa.
Todos estavam se pondo a voltar para a escuridão e se ocultar durante toda a noite, e por quanto tempo? bem eu não sei.
Mas você consegue ouvir os gatos brigando por ratos ou os mosquitos batalhando por um lugar na luz, eles também sentem medo.
Um som de sacos de ossos ainda é ouvido por lá como se fosse um tipo de troféu.
E o vento...
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